quarta-feira, 28 de março de 2012

ENTREVISTA COM DR. REGINALDO TEIXEIRA

Terapia Familiar Sistêmica Constelação
(Constelações Familiares, liberando os destinos trágicos, e refazendo a imagem interior do seu lugar na família).

Reginaldo Teixeira Coelho, Psicólogo Clínico de Belo Horizonte, virá a Arquidiocese de Vitória, de 25 e 26 de maio de 2013, a convite de Pe. Pedro Camilo,  O objetivo do encontro será para apresentar a Teoria da Constelação , uma abordagem terapêutica desenvolvida por Bert Hellinger e a realização de um Workshop de Constelação. 

ENTREVISTA DA REVISTA VITÓRIA COM O DR. REGINALDO TEIXEIRA

Quem é o criador da Teoria das Constelações Familiares?
    Como é conhecida hoje foi desenvolvida pelo terapeuta alemão Bert Hellinger, nascido em 1925. Hoje vive com sua esposa na Alemanha. Ele estudou filosofia, teologia e pedagogia. Foi ordenado padre  e trabalhou  como missionário na África do Sul, com os Zulus. No início dos anos 70 deixou o ministério e dedicando-se à psicoterapia. Através da dinâmica de grupo, da terapia primal, da análise transacional e de diversos métodos hipnoterapêuticos chegou à sua própria terapia sistêmica e familiar.


Para que serve a Terapia Sistêmica?

     É uma proposta terapêutica de trabalho com as pessoas, suas relações na família  e os sistemas humanos, onde através de um processo Individual ou de Grupo, se foca as mudanças necessárias nos padrões de funcionamento e de interação.
     A terapia familiar foi desenvolvida a partir dos anos 60, na Califórnia. A princípio trabalhando com pessoas deficientes e psicóticos. No trabalho com os doentes mental, os estudiosos começaram a perceber que quando o cliente estava começando um processo de melhora a família reagia e atrapalhava o processo, aí um deles resolveu internar a família inteira para fazer um tratamento melhor. Assim começaram a ver que, com as dinâmicas que existiam dentro da família, muitas vezes o psicótico era ” o louco depositário da loucura de toda a família”.

Como a Terapia Sistêmica entende a família?
      A terapia sistêmica entende a família como um sistema aberto que se auto-governa através de regras que definem o padrão de comunicação, mantendo uma interdependência entre os membros e o meio, no que diz respeito a troca de informações.
      O aspecto fundamental é a de que o ser “doente” ou a pessoa que apresenta problemas é apenas um representante circunstancial de alguma disfunção no sistema familiar. Enquanto o modelo tradicional de práticas psicoterapeuticas diria que o transtorno mental se manifesta pela força dos conflitos internos ou intra-psiquícos, tendo sua origem no próprio indivíduo, o modelo sistêmico daria ênfase a tal transtorno como expressão de padrões inadequados de interações familiares.  

Como o terapeuta familiar integra essa novidade?
     É um método que tem agradado tanto aos terapeutas quanto aos clientes, por ser um trabalho onde a energia familiar é trabalhada de forma isenta de julgamento e também inclusiva. Em Constelação inclusiva quer dizer que cada membro ocupa o seu lugar dentro do sistema, até mesmo os mortos e/ou vivos excluídos, ampliando sua energia vital. Assim, todos entendem melhor o seu lugar dentro do sistema.

O que isso veio a contribuir na prática do terapeuta?
     Gerou um novo olhar sobre o terapeuta, desmistificando-o como o sabe-tudo, que passa a assumir um papel de facilitador, cujo conhecimento, como qualquer outro esta livre de um status privilegiado.
     A escuta feita pelo terapeuta pressupõe sua formação teórica e prática e sua bagagem transportada por sua própria história de vida, isto implica na formação como especialista em terapia familiar e de casal e na vivência da terapia individual, supervisão e consultoria clínica.

Antes, como era o pensamento científico?
     Não era um pensamento sitemico.  Descartes, por exemplo, filósofo francês, estava dentro de uma época muito carregada de fantasmas, mitos e crendices. Ele achava que o pensamento era o que destacava o humano dos outros seres viventes da Terra. Então conclui que “Eu penso, logo existo” é uma distorção, porque eu já existo antes de pensar. Existimos desde o momento da fecundação. O pensar lógico vai existir depois da cognição, por volta de três ou quatro anos de idade. Então, depois de Descartes reforça esse culto da razão pura.
     A partir da Biologia, da verificação de nossas células no corpo é que surgiu o pensamento sistêmico. Todas as células são derivadas de duas células. O óvulo e o espermatozóide. Elas se uniram e começaram um processo de revolução que deu início a todos os outros órgãos. Nos órgãos elas são iguais, porém diferenciadas, devido à função que cada célula exerce. Mas todas as células têm a noção do órgão inteiro. A célula é ao mesmo tempo uma unidade biológica própria, com vida e respiração e também consciência do todo. Quando um órgão se perde é uma célula que perdeu a consciência do todo e aí se forma o câncer. O câncer é quando uma célula não respeita a noção da totalidade. Então nasce o tumor que fere o conjunto.

Como surgiu essa relação com a terapia?
       Nós também somos assim em nossas organizações sociais e humanas. Temos uma consciência individual e coletiva. Tudo surgiu no final do século XIX com Freud e seus colaboradores. Eles queriam entender como funcionava o aparelho psíquico, motivados por uma doença muito forte na Europa, que era a histeria.  O modelo de mulher era a rainha Vitória, época muito pudica. As mulheres negavam muito o corpo e isso ia criando traumas. Muitas mulheres apareciam com histerismo. Freud vislumbrou um mapa de como funciona o comportamento humano e deu a noção do inconsciente. Nós, na nossa vida infantil passamos por fases, na qual a nossa consciência vai evoluindo. O nosso primeiro momento de percepção é a boca ou tubo digestivo, que começa a interagir com o mundo. Se essa primeira fase for bem satisfeita, a pessoa passa bem para a segunda fase. Muitas vezes essas necessidades são negligenciadas e essas pessoas não fazem uma boa passagem. A criança, às vezes, chora e a mãe não percebe o motivo real do choro e vai dar de mamar e a criança continua chorando porque às vezes está faltando uma nutrição afetiva. A imagem de si mesmo é construída da interação mãe e filho. Esta interação do eu com o outro é que vai me dar uma idéia do self. O outro é fundamental nessa elaboração da imagem que eu vou criar de mim mesmo e como eu vou me perceber.
  
 E as crianças que são abandonadas?

     As criadas que ficaram em orfanatos e não tiveram uma boa interação, ficam carentes. A base de nosso desenvolvimento é psicomotor e afetivo. Se o desenvolvimento é precário vai criar seres precários. Essa é a idéia do inconsciente individual.
     Aí você cria a forma como vai sendo a sua aceitação ou rejeição nesse mundo, criando o seu ego, a imagem que você tem de si mesmo. A diferença que nós temos dos animais é essa imagem de nós mesmos e a refletimos sobre nós mesmos.

Esta fase da criança vai até que idade?
      A fase de desenvolvimento vai até sete anos. Todos nós passamos por esse processo, mas muita coisa a gente esquece e se torna inconsciente. Então a imagem que você tem de si mesmo pode ser maior do que a sua realidade ou menor, dando uma idéia do eu distorcido, arrastando isso a vida toda.

Então a imagem que tenho de mim é falsa? 
      A não ser que você faça uma terapia para reverter esse quadro, é uma imagem comprometida. A imagem que tenho de mim são pedaços de meu pai, minha mãe, meus irmãos, da babá, do lugar onde vivi e além das satisfações que foram realizadas ou não. Essa é a real imagem. Na maioria das vezes deformada pelas circunstâncias. Muitas vezes o meu querer é o de meu pai, de minha mãe e não o meu verdadeiro querer. São crenças introjetadas em mim. A própria dinâmica que minha família estava vivendo, com os pais mais próximos ou separados, passando necessidades etc. São todas essas situações que vamos pegando e criando a imagem de nós mesmos.

Onde entra o pensamento sistêmico?

     Entra nessa idéia mais evoluída porque está ligada com a própria realidade. Nós todos nascemos de uma família, mesmo os indivíduos de proveta vieram de um gene do pai e da mãe, de uma ancestralidade. Junto com a minha família eu tenho um destino comum. Por mais que eu possa me tornar único e indiferente da minha família, ela estará sempre presente em mim, na genética, porque meus genes são porta-vozes da mesma geração deles. Viemos de uma origem comum e isso está tudo gravado em memória. O nosso reservatório é imenso, tanto celular quanto do córtex. Nós só usamos um nono de nossas capacidades mentais. 

Cada ser carrega dentro de si o destino de sua família? 
      Sim! Estamos começando a tomar conhecimento dos comportamentos herdados de nossos ancestrais e apenas começando a decodificar nossos códigos genéticos.
    Temos o consciente individual, dentro do consciente familiar, que está dentro de uma raça e de uma sociedade. E estes dentro da Terra. A consciência da Terra está ligada com o sistema solar, e este ligado ao sistema galáctico, e este a um sistema interestelar. Todos estão ligados ao Cosmo. Eu também sou cosmo, estou na Terra e em tudo. Por isso o pensamento sistêmico é redondo, uma causa que leva a um efeito que retorna para uma causa e assim sucessivamente.

Como aplicar essa visão do todo na família? 
      Se tiver dentro de um grupo familiar um agressor, vai ter sempre as vítimas. Um atrai o outro. Só existe um com o outro. Está tudo interligado.
O homem sempre achou que era o centro do Universo, na verdade é uma ilusão. Tudo é importante. Homens que muito nos ajudaram foram Galileu Galilei, quando disse que a Terra não era o centro do universo e sim um pequeno planeta.  Freud postulou que a maior parte de nossos comportamentos são  inconscientes. E agora com o pensamento sistêmico damos mais um passo pois, somos tão importantes quanto tudo o que existe. Em tudo existe uma inter-relação.

Como entender o amor nessa teoria?
      Porque uns me agradam e outros não? Vivemos a experiência do amor, não sabemos nada da essência dele. O que proporciona uma luz é a teoria dos campos magnéticos.
      O ponto mais central da fala de Cristo é a relação humana, o amor. “Amar o próximo como a si mesmo”. Fazer com o outro o que você faz a si mesmo. Os grandes valores que ficam na humanidade, são os valores do bem. O que ficou na História? Hitller? Napoleão? Os grandes Impérios?... Não! O que ficou foi a construção do bem comum.  O Nazismo não ficou porque servia apenas a um grupinho. A Humanidade caminha sempre para o Bem Maior. As tragédias acontecem quando um grupo quer o bem só para si e não para todos.

O que acontece com a falta de amor? 
      Quando as ordens do amor são desrespeitadas cria-se uma repetição. Repetições de tragédias, problemas patológicos, suicídios, sofrimentos em geral, tudo o que se esconde em uma geração estoura na geração seguinte. As ordens do amor não são como as leis jurídicas. Sabemos que negligenciamos com elas pelos efeitos que causam na vida. Todo mundo sabe que pisou na bola em algum momento.

Quais são as Ordens do amor que devemos obedecer?
      A primeira delas é a pertinência. Todos têmos o direito de pertencer. Se alguém diz, eu posso pertencer e você não pode, aí começa um emaranhado de problemas. Fere as leis dos direitos humanos. Nasce a exclusão. Quando uma criança nasce, ela tem o poder de fazer pertencer. Ela está protegida dentro de um campo magnético. Todos pegam uma criança que está abandonada na rua. Ela atrai como um ímã. Se for um velhinho abandonado, a gente paga um real e sai fora. Todos os excluídos voltam geneticamente a aparecer na família para receber uma segunda chance de inclusão. Muitas famílias vivem no luxo que é fruto de roubo das gerações anteriores. Paga caro por isso.
     A segunda é Inocência e culpa. Existe um amor infantil nas crianças que é de pegar dos pais aquilo que aconteceu de pesos e responsabilidades, na intenção de manter o sistema unido. Os filhos se colocam no lugar dos pais para servir de saco de pancada, no intuito de defender o sistema.
     Dar e receber. É da natureza dos pais darem aos filhos. É da natureza dos filhos receberem. O casal que quer ter filhos precisa estar disposto a dar o tempo todo. Existe prazer nessa troca, dar e receber. Muitos pais roubam esse direito dos filhos. A exploração do trabalho infantil, por exemplo. Muitos filhos, em gerações passadas, eram feitos para serviços braçais. O seu direito de receber foi roubado pelos pais.
    Também temos as Ordens do tempo.  Quem chega primeiro no sistema tem prioridades. Então, a primeira prioridade é de nossos pais, depois, os mais velhos, dentro da ordem de chegada. A primeira coisa que um casal tem de prioriza é seu relacionamento. Este chegou primeiro, depois vieram os filhos. Se um filho mais novo quer ocupar o lugar do outro, ou do pai, ou da mãe, aí começa a geração de problemas psicóticos.


Para perguntas e esclarecimentos basta enviar mensagem para e-mail:
regis.bh@terra.com.br  -  (Dr. Reginaldo Teixeira)